A televisão brasileira sempre foi marcada por protagonistas icônicas, mas poucas atrizes conseguiram sustentar esse protagonismo com a mesma inteligência, presença e representatividade de Taís Araújo.
Em meio ao burburinho de que Raquel, sua personagem em “Vale Tudo”, teria “sumido” da novela da Globo, surge uma reflexão inevitável: por que ainda se tenta apagar a força de uma atriz que, há mais de duas décadas, sustenta as novelas com sua excelência?
Na atual adaptação da obra de Gilberto Braga, agora sob o olhar de Manuela Dias, Taís Araújo mostra mais uma vez porque é uma das maiores intérpretes da televisão. O afastamento pontual de Raquel da narrativa não é, como se tem especulado, um rebaixamento. É uma estratégia narrativa.
E Taís, com sua maturidade profissional e abertura ao diálogo com o público, responde a isso com atuação de alto nível e com o que lhe é mais característico: consistência.
Quando a ausência fala mais alto do que a presença
Nos últimos dias, Raquel ficou de fora de um capítulo inteiro de “Vale Tudo”, o que bastou para gerar inquietação nas redes sociais. A protagonista que lidera a trama central simplesmente não apareceu. Mas essa escolha partiu da autora Manuela Dias, que optou por focar momentaneamente em outras frentes da narrativa.
Entretanto, para felicidade dos noveleiros, Raquel voltará com força total a partir de julho, com a virada da personagem ao se tornar rica graças ao sucesso do restaurante.
Para muitos, a ausência da personagem soou como um “apagamento”. E é impossível não traçar um paralelo com o que ocorreu em 2009, quando Taís Araújo interpretou Helena em “Viver a Vida”, de Manoel Carlos.
Na ocasião, ela foi alvo de críticas desproporcionais, muitas vezes atravessadas por racismo estrutural. Taís, primeira atriz negra a viver uma Helena de Manoel Carlos, foi cobrada com uma severidade que nunca se aplicou às suas antecessoras.
A expectativa era que ela carregasse nas costas uma trama que, em termos de roteiro, tinha suas falhas — mas foi a atriz quem acabou sendo o alvo.
Desta vez, a situação se repete com outras tintas. Há quem diga que Raquel é “burra” ou “chata”, críticas que surgem inclusive nas redes sociais da própria atriz. Mas, diferente de 2009, Taís não se fecha. Ao contrário: convida o público ao diálogo. Pergunta, escuta, responde. Isso é protagonismo em outro nível.
Protagonismo além da tela
Taís não se limita à atuação. Ela se posiciona com firmeza e delicadeza. Recentemente, publicou um vídeo abrindo espaço para críticas construtivas: “Você tem algo para dizer a Raquel? A hora é agora e o espaço é esse. Aceito dúvidas, críticas, elogios, sugestões. Mas com carinho, por favor.”
Poucos artistas com a carreira consolidada têm coragem de se colocar tão vulneráveis — e isso só confirma o quanto ela confia no seu trabalho.
A resposta do público é, na maioria das vezes, positiva. Elogios à sua atuação, observações sobre o figurino ou a continuidade da trama, até críticas sinceras à construção da personagem aparecem. Taís lida com tudo com uma serenidade que só quem tem domínio absoluto de seu ofício pode ter.
E é justamente essa capacidade de escuta, aliada à sua presença cênica, que a mantém no centro das atenções — mesmo quando não está em cena.
Fonte OFuxico