A atriz Michelle Martins postou nas redes sociais um “relato de uma ex quase paquita negra”. A artista apareceu ao dar seu depoimento para o documentário Pra sempre paquitas, da Globoplay.
Integrante do elenco de A Força do Querer e Fina Estampa, Michelle chegou perto de ser a primeira paquita negra da Xuxa. Ela foi uma das 20 finalistas do concurso de 1995, que selecionou sete assistentes de palco, conhecido como New Generation.
Durante sua passagem pelo documentário, a atriz se emocionou ao dizer que seu sonho não se realizou por causa do racismo estrutural. “Foi tirado dos sonhos. O meu ficou muito perto. Muito perto. Não acho que foi Xuxa, Marlene. Era culpa do contexto. Nosso racismo estrutural sempre foi muito grande. Eu culpo a nossa história. Hoje eu vejo como tristeza. Há uma revolta a gente entender que muitas meninas poderiam, sim, ter tido a oportunidade de terem tido esse sonho, mas não viveram por conta da cor da sua pele”, desabafou.
No documentário, Xuxa lamentou o que ocorreu com Michelle Martins: “Ela era muito bonita. Achávamos que era a nossa grande possibilidade, mas entendo o que aconteceu, óbvio que eu entendo”, reconheceu.
Nas redes sociais, Michelle comentou sobre o processo seletivo para ser uma paquita: “Enquanto elas passavam por tudo aquilo [que o documentário mostra], a gente estava desejando estar ali. Era o sonho de muitas meninas. Eu era baixinha da Xuxa, como a maioria dos brasileiros.”
“Quando abriu o concurso Paquitas Nova Geração, meu primo foi levar uma prima minha para o teste. Ao chegar lá, ele viu a diversidade de meninas. Não eram só as loirinhas. Ele pegou uma ficha (de inscrição), trouxe para mim e falou que tinha chegado a minha vez”, relembrou.
Michelle comentou que, “de repente”, se viu finalista do concurso. “Olhava ao redor e não me via representada em canto nenhum e me vi como a única negra finalista do concurso. Vi a possibilidade do sonho se tornar realidade.”
A artista acrescentou que não foi criada com consciência racial e que não tinha telefone em sua casa, por isso recebeu os recados por terceiros. “Quando começou a vir aquela enxurrada de imprensa ligando, eu ia atender na casa da minha vizinha Carlinha ou na casa de uma tia. Quando começaram todas aquelas reportagens, fui ficando um pouco assustada.”
Infelizmente o sonho não durou muito. “Na carreira, a gente tem altos e baixos o tempo inteiro. Ali era a minha única oportunidade. Hoje, vendo as palavras da Xuxa refletindo e entendendo, isso me toca em um lugar bem diferente.”
Após ter sido reprovada como paquita, Michelle virou capa de revista para adolescentes e acrescentou que pelo racismo da época foi a primeira revista Carícia. “A matéria diz: ‘Michelle Martins, nossa garota da capa, ameaçou o império das loiras. Candidata a paquita do Xuxa Park chamou mais a atenção do que todas as outras juntas’. Isso porque eu era a única negra entre as finalistas.”
Por fim, a atriz comentou que ficou feliz por Xuxa reconhecer que foi omissa, mas entende que a apresentadora não deve ser culpabilizada. “Eu ouvi as palavras da Xuxa, o reconhecimento da omissão, que não era só dela. É o contexto, é o sistema e ainda temos muito a evoluir.”
Metrópoles